Cansado de sentir os solavancos da vida
Juliano, homem de porte romano, comprou uma calculadora.
Gastou um pouco do economizado numa máquina belga
que fazia todas as contas que Juliano não precisava fazer.

Calculou todos os gastos,
as incertezas,
as dúvidas,
as incoerências,
os prejuízos,
e os desencontros.

Em contrapartida, Juliano somou as alegrias,
as chegadas,
os festivais,
sorvete de Flocos,
gemidos de gozo
e lágrimas de êxtase.

Juliano era mesmo sabido com sua calculadora belga.

Na prova dos nove, encontrou resultado de dígito negativo;
Juliano era mesmo sabido
e a matemática recomendou
que ele desse cabo na própria vida.

Com seu porte romano, Juliano esqueceu da fortuna belga
e aquietou-se nos apoios da janela.
A matemática e a poesia, pensou,
e num súbito impulso saltou para dentro de um livro
virando personagem de ficção.

Esperto, Juliano transformou a sua dor em best-seller
e a calculadora belga em artigo de coleccionador.